QUANTOS JÁ PASSARAM, PREGUNTOU ELE . 2011
Carregado
Já passaram
quantos anos,
perguntou ele
Rui Pina Coelho
2011
Quatro amigos portugueses, Jaime, Alice, Cláudio e Helena. Licenciados: numa mão um diploma, noutra, um passaporte. Estão à procura de emprego, a inventar profissões ou a trabalhar por conta própria. Têm empregos precários, sonhos provisórios, roupas usadas, computadores antigos, livros importados, música boa e malas aviadas. Estão com um pé aqui e outro lá. São a massa cinzenta que se pira – mas que também não passa sem o lindo sol português e sem um belo peixinho grelhado. São quatro amigos que não trocam as praias portuguesas por nada – mas que já estão fartos disto tudo.
Já passaram quantos anos, perguntou ele é sobre andar à procura de lugar, é sobre o tempo a passar, é sobre a comida e a conta do gás, é sobre os filhos, o preço das fraldas e das propinas. É sobre o fim do mundo. É sobre aqueles que, embora com trinta e poucos anos, ainda guardam a esperança que o Guardiola os possa chamar para jogar a extremo esquerdo do Barça. É sobre aquele verso do John Lennon, “Life is what happens to you while you are busy making other plans”. E é inspirado no texto do John Osborne, Look Back in Anger (com pilhagens várias não assinaladas à tradução de José Palla e Carmo, O tempo e a ira, Lisboa: Minotauro, s/d), escrito num momento em que parecia não haver mais causas pelas quais valesse a pena lutar.