Carregado
TeCA | Sala Oval
14+21 setembro | sáb 14:30-18:30
sessões contínuas para um espectador,
mediante marcação prévia
conceção, dramaturgia e interpretação
Luís Araújo
sonoplastia
Jorge Paupério
produção
OTTO
dur. aprox. 40’
M/16 anos
agradecimentos: Sara Pazos, Ricardo
Braun, Jorge Paupério, Sofia Arriscado,
Julieta Guimarães, Emanuel Pina, Hugo
Torres, Rita Gigante, Jorge Seabra
Paupério, Marta Dias, Andreia Magalhães,
Maria Alice, Cândido Araújo
dedicado a Sara Pazos
Porque é tamanha bem-aventurança
O dar-vos quanto tenho, e quanto posso,
Que quanto mais vos pago, mais vos devo.
1. A OTTO foi fundada em Julho de 2012, por mim e pelo Ricardo Braun, como um espaço – centrado, mas não se esgotando, no espectáculo teatral – de experimentação, produção e afirmação do gesto da palavra, quando dita e quando escrita, e da necessidade de se fixar o objecto performativo através de um projecto regular de edição de novos textos, novas traduções, novas dramaturgias e documentação complementar aos espectáculos. Em Setembro de 2012, apresentámos, no Porto, o espectáculo Katzelmacher, a partir da peça e do filme homónimos de Rainer Werner Fassbinder, porque tínhamos a vontade de começar o nosso trabalho pela redescoberta de um certo património esquecido, literário e teatral, de língua alemã. Perspicere é a nossa segunda criação.
2. Trazemos este trabalho criado para ser apresentado em quartos de hotel e que começou a ser desenhado em 2011, quando decidi ler os diários que escrevi desde 2004 durante as digressões. Foi bastante clara na primeira leitura a dificuldade que tinha em estar longe de casa. Não se tratava de saudades ou da dificuldade em adaptar-me ao ritmo de uma vida em permanente movimento, mas sim de algo mais físico do que isso. O facto de o meu corpo entender o quarto de hotel como um prolongamento do palco – descobri mais tarde que devido ao facto de também este ser um espaço que não permite a continuidade –, fazia com que estivesse em permanente acção, produzindo um discurso interno que continha no seu gesto – mais do que uma ruptura com o espaço em que estava inserido – um ajuste necessário a esse mesmo espaço. O quarto de hotel como local de excelência para o voyeurismo, mas para o voyeurismo autofágico.
3. Faz falta organização. Faz falta repensar os modelos, em vez de tentarmos, toscamente, fazer com que os modelos instalados sobrevivam. Passámos demasiado tempo a cobrir madeira podre com talha dourada. Faz falta que as coisas tenham eco. Fazem falta condições e direitos, para que possamos conduzir o nosso trabalho de forma continuada e consequente. Fazem falta mais oportunidades e menos mãos estendidas. Faz falta deixar de culpar os outros. Faz falta que, de uma vez por todas, se perceba que esta profissão não é um estatuto, um chapéu, uma forma de estar ou uma atitude. É um trabalho. Com os direitos e os deveres que isso implica. Faz falta não deixar que os caprichos prostituam as ideias. Mas, sobretudo, fazem falta ideias.